O pão de queijo


 Tempos difíceis no trailer da PUC.

No jornal


Eu vou pra longe
Onde não exista gravidade
Pra me livrar do peso da responsabilidade
De viver nesse planeta doente
E ter que achar a cura da cabeça
E do coração da gente
Chega de loucura, chega de tortura
Talvez aí no espaço eu ache alguma criatura inteligente
Aqui tem muita gente, mas eu só encontro solidão
Ódio, mentira, ambição
Estrela por aí é o que não falta, Astronauta!
A Terra é um planeta em extinção...

[Trecho de Austronauta - Gabriel o Pensador]

Assistindo à Paixão de Cristo


Mulheres me entenderão. E alguns homens, talvez.

Dieta?


Tirinha-teste com um material diferente. Essa caneta nova é uma FDP que borra o tempo todo, desbota com lápis de cor e nunca sai da espessura certa. Mas posso fazer amizade com ela, se ficar legal assim. Que cês acharam? Melhor, pior ou indiferente?

Causas


Porque grandes causas formam grandes pessoas.

Palavras Cruzadas


Uma homenagem emocionada ao novo sistema de cotas nas universidades federais, que promete corrigir toda a merda da educação básica no Brasil. Investir em educação pra quê, bora colocar todo mundo na faculdade e ver no que vai dar! Parabéns, Dilmão.


Anita




         O despertador nem tocou e eu já estava acordada às 7h da madrugada. Que droga é essa? Tô ficando velha, não consigo mais acordar tarde. Paciência, agora já levantei. Primeiro as pernas, depois os olhos, que é pra não sair batendo a cara nas paredes. Pé direito no chão, banheiro, torneira e - opa! -, espelho. Taí uma coisa que não devia existir logo de manhã: deprime. Bom-dia pra Niuza, café-com-leite e torrada. Nada pra fazer. Vou pro sofá e continuo lendo o Presença de Anita. Livro engraçado, não consigo deixar de imaginar as caras do José Mayer e da Mel Lisboa nos personagens principais. A Anita da história é loira, mas eu quero a minha morena e de olhos verdes, pronto. Já sei mais ou menos o final, nem ligo. Lá estão Mel Lisboa e José Mayer falando de sexo e de amor, vivendo toda aquela confusão de sentimentos. Amor é um negócio tão esquisito, a gente chora e ri quando ama. Junta uma coisa ruim com uma boa e forma isso aí. Nunca vi. Deve ser normal, o amor. Fico pensando se não seria melhor que ele fosse alguma coisa no meio, nem rir nem chorar. Mas aí não seria tão bom. Eu acho. Amar, amar, amar. Quatro letras, todo mundo lê mais do que isso. Amor é um troço folgado, chega sem pedir licença nem avisar. Mas a gente sempre deixa ele entrar, fazer o-quê. Eu já amei. Dois ou três, não sei, não medi. Quantos metros você ama?, eu perguntaria. 1,80m pra cima, sou pequenininha. Pela estrada, seis mil cento e vinte e dois metros. Pode medir em centímetros também: quanto mais perto, mais amor. Mas nem é. Alma gêmea nem deve existir, seis bilhões de pessoas. Se a minha for um japonês eu tô fodida, vários milhares de quilômetros. E se for um homem casado com a cara do José Mayer, então, pior ainda. Quem sabe? "Só os amantes sabem que possuir é apenas uma palavra", ele diz. E desce as escadas pra nunca mais voltar.


Ambições


Não sei em que momento da vida eu resolvi que queria ter uma fábrica de chocolates, mas definitivamente tô indo no caminho errado.
De toda forma, foi só uma brincadeira...

mmmhahuhua >=]

Peixe


Pessoas: zoando vegetarianos quase sem querer.

"Os três mal-amados"



O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

 [João Cabral de Melo Neto e um dos meus textos preferidos da literatura brasileira]





Lipo


Levando ao pé da letra. Se é que letra tem pé.